No Dia Internacional de Luta pela Saúde da Mulher e Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna, celebrados neste sábado, 28, o vice-presidente da Comissão Nacional Especializada em Mortalidade Materna da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), Rodolfo de Carvalho Pacagnella, reitera que os óbitos de mães podem ser evitados.
O Painel de Monitoramento da Mortalidade Materna aponta que o Brasil teve, em 2021, média de 107 mortes a cada 100 mil nascimentos. O índice de mortalidade materna se refere ao número de mulheres que morrem durante a gravidez ou nos 42 dias após o parto diante de causas relacionadas à gravidez ou por ela agravada a cada 100 mil nascidos vivos em um determinado ano, em um país.
O Brasil enfrenta um cenário bem diferente do previsto pela Organização das Nações Unidas (ONU). Até 2015, o objetivo era que o país alcançasse menos de 35 mortes por 100 mil nascimentos, porém o Brasil estava na faixa de 70 a 75 óbitos maternos por 100 mil nascidos vivos. Com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), a ONU indicou, até 2030, diminuir a quantidade de mortes de mães mundialmente para menos de 70 mortes por 100 mil nascidos vivos.
Causas
Segundo Pacagnella, a maioria das mortes maternas poderia ser evitada. A grande questão, disse, não é em relação a taxa de óbitos, mas o motivo de acontecerem e seus reflexos. “São situações que poderiam ter sido diagnosticadas durante o pré-natal e, principalmente, nos momentos próximos ao parto. E essas condições não foram identificadas e não foram tratadas de forma oportuna”.
O vice-presidente da Comissão da Febrasgo alega que a consequência da mortalidade materna é perigosa, já que a mulher sempre foi, mas hoje tem um papel reconhecido, como indivíduo central na organização social, emocional e financeira da família. O falecimento de uma mãe no momento do parto ou puerpério gera um desequilíbrio de tudo que a envolve, apontou o médico.
“Como resultado, geralmente há uma desorganização da família, desorganização do cuidado dos filhos, aumento da pobreza, uma série de questões que vêm em função de que ela é figura fundamental na organização daquela comunidade, não só da família, mas da comunidade como um todo”.
No Brasil, a hipertensão é a protagonista nesse palco de mortes maternas. Em segundo lugar, aparece a hemorragia, seguida de aborto inseguro e infecção puerperal. Na lista também são inclusas causas indiretas, associadas a condições físicas já existentes, ou pioradas na gestação, como doenças cardíacas, renais, cânceres, entre outras.
Covid-19
Durante a pandemia de Covid-19, segundo ele, foi registrado um crescimento de mortes maternas por doenças respiratórias, como consequência de um olhar menos atencioso para gestante, que é uma população de risco para a gravidade dessas doenças, principalmente as virais, associadas ao coronavírus.
Dados preliminares apontam que a o índice de mortes maternas por SARS Cov 2 saltou de 1.500, que vinha sendo registrado nos últimos 6 anos, para 2,2 mil, em 2021.
A superlotação dos hospitais também foi um problema que levou a um aumento de mortalidade materna por outras causas, já que não havia assistência médica suficiente.
O médico disse que o fato de a mulher ter uma condição de maior risco de morrer pela gravidez é um fator biológico, porém sua morte por outras causas é uma questão social.
Rede de assistência
Para que haja a atenuação desse problema social, é necessário que haja um entendimento social da importância da mulher no contexto da formação social do país, disse Pacagnella. “Era preciso ter políticas públicas que assegurem acesso e assistência com qualidade aos serviços de saúde materno-infantil.”, defendeu.
Pacagnella afirma que essas questões já começaram a ser adotadas em algumas políticas, embora de maneira periférica. Para diminuir substancialmente a mortalidade materna, o Brasil deve estabelecer uma rede de assistência que seja capaz de reconhecer as situações de gravidade, com profissionais treinados e especialistas em ginecologia e obstetrícia, disse o especialista.
A Febrasgo participa de diversas ações de treinamento de profissionais acerca da relevância da mulher na constituição da sociedade e, também, em ações de implementação de processos de melhoria clínica e de gestão, de tratamento de questões associadas à gravidade, em parceria com outras instituições, até que haja a criação de uma percepção nacional sobre a importância desse tema.
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