O isolamento social e o estresse da pandemia, aliados a mudanças drásticas na rotina podem ter sido responsáveis por um aumento alarmante nos casos de transtornos alimentares registrados nos Estados Unidos. Um estudo feito por pesquisadores da Universidade de Harvard em hospitais pediátricos com jovens entre 12 e 17 anos constatou um aumento de 87% nos casos de compulsão alimentar, anorexia e bulimia.
Os registros ocorreram após a procura de crianças e adolescentes por serviços de saúde com quadros de desidratação intensa, perda de peso extrema e até alterações no ritmo cardíaco. Para a nutricionista clínica e esportiva Carla Cabral, esse aumento no número de jovens com transtornos alimentares é preocupante. “É importante ter atenção aos indícios e sintomas de cada um desses problemas para que o tratamento correto, com uma equipe multidisciplinar, seja iniciado antes de desdobramentos graves”, alerta.
Pressão constante
No Brasil, estima-se que 10 milhões de pessoas convivam com algum tipo de transtorno alimentar. A especialista explica que os fatores que podem desencadear esses transtornos surgem de vários lugares. “Eles podem ser influenciados por aspectos emocionais, sociais, econômicos e até pela mídia”, pontua.
Ainda assim, Carla também reforça que a pressão estética tem maior influência sobre as mulheres, que consequentemente são vítimas mais comuns desses quadros. Dados de um estudo feito na Espanha mostram que enquanto 30% das garotas apresentam algum distúrbio passível de se agravar como transtorno alimentar, apenas 17% dos garotos enfrentam problema semelhante.
Ainda assim, o aumento dos casos é motivo de preocupação geral. “A pandemia não afastou esses jovens apenas do tratamento, mas também do contato com amigos com quem podem se identificar. Por um lado, eles veem atividades que privilegiam e enfatizam a magreza do corpo como a de atores e atrizes, modelos, bailarinas, desportistas e celebridades. Por outro, tentam lidar sozinhos com baixa autoestima, perfeccionismo, insegurança no relacionamento social e até dificuldade de identificar e expressar sentimentos”, explica.
Diferentes problemas e consequências
Os transtornos que têm afetados esses jovens são variados. Na anorexia nervosa, que em 90% dos casos atinge jovens mulheres entre 12 e 20 anos, há uma distorção da imagem corporal com acentuada perda de peso e medo mórbido da obesidade. Suas complicações podem ir desde a desnutrição e desidratação até a infertilidade e queda de cabelos, unhas e dentes.
“Normalmente as pacientes com sinais de anorexia perdem peso de forma repentina, se recusam a comer com a família ou em locais públicos, adotam dietas rigorosas e contam calorias com medo excessivo de engordarem, fazem jejuns que podem durar dias, exageram na prática de exercícios e se isolam de parentes e amigos”, salienta.
Outro quadro preocupante é a bulimia nervosa, em que o paciente tem episódios de alimentação excessiva e compulsiva em curtos períodos para depois adotar comportamentos compensatórios inadequados na tentativa de queimar calorias. “Há um sentimento de culpa muito forte e é comum o paciente forçar o vômito ou usar diuréticos e laxativos. Esse paciente pode apresentar peso normal ou até sobrepeso, o que dificulta o diagnóstico”.
A bulimia nervosa pode ter consequências graves como o aumento do risco de arritmias causado pelo desequilíbrio eletrolítico, aspiração pulmonar de conteúdo gástrico e até ruptura do esôfago. Diante disso, a nutricionista Carla Cabral reforça a importância de combinar o acompanhamento nutricional ao psicológico. “É fundamental diferenciarmos a fome física da emocional e lidarmos com as pressões de padrões e rótulos que estão em mudança constante. Cada corpo tem suas características e marcas e é necessário buscar ajuda profissional quando nos sentimos insatisfeitos de alguma forma”, completa.
Seja o primeiro a comentar