Pode até parecer uma tarefa simples, mas conseguir identificar e expressar o que sente demanda um certo trabalho. Não se trata simplesmente de saber se está triste, feliz, com raiva ou medo, mas sim reconhecer além: o que aconteceu para essas emoções surgirem? Quais são os gatilhos? Por que o sentimento foi este e não outro? São reflexões complexas que fazem parte do processo de autoconhecimento e sem fórmulas mágicas.
Apesar de não ter uma receita pronta, muitas vezes é com a psicoterapia que o reconhecimento se torna possível. Segundo Chalise Maris Martin Reges, psicóloga da Vibe Saúde, nossas emoções são uma forma de apreendermos o mundo que nos cerca a partir da nossa interação com ele. “Sabemos o quanto as emoções têm um caráter de resposta ao ambiente ou acontecimento, assim como um aspecto de lembrete, que inclusive pode gerar sensações agradáveis ou desagradáveis, fisiológicas e até físicas, quando passamos a prestar mais atenção em nós mesmos”, explica.
Muita gente já perdeu uma noite de sono por conta de uma preocupação ou sentiu algum sintoma físico devido à ansiedade. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), o Brasil tem o maior índice de pessoas com transtorno de ansiedade no mundo. “As pessoas sabem que algo está mexendo com elas, talvez só não tenham real ideia quais são os gatilhos emocionais. As emoções dão um jeito de nos mandar um lembrete de que, sim, precisamos de um olhar um pouco mais atento para cuidar de maneira mais autêntica e transparente de nós. A terapia contribui neste processo”, diz a psicóloga da Vibe Saúde.
Diante disso, se pensa: É possível controlar as emoções? O que se aprendeu? Qual reação foi provocada? O filósofo Jean-Paul Sartre resume bem a explicação para essas perguntas em uma das suas frases mais conhecidas: “O mais importante de tudo não é o que fizeram de você, mas o que você vai fazer, com o que fizeram de você.”
A especialista Chalise Maris Martin Reges complementa e explica que sentir é importante para todos. “Pode ser que já tenha acontecido uma situação muito delicada que doeu, a ponto de as pessoas preferirem, mesmo que por um momento, não sentir mais nada. Por que lutamos tanto para não sentir as emoções e o que elas nos convidam a olhar? Acredito que está mais relacionado ao não ter sofrimento, mas não percebemos que é justamente nessa tentativa inútil do tentar fugir da dor, que dói.”
Na vida, o ser humano tem sensações desagradáveis e não está isento de sentir algum tipo de incômodo e ter gatilhos emocionais. Ter recursos emocionais para aprender a lidar com os pontos delicados é um caminho para melhorar a trajetória de aprendizado e melhorar a saúde mental. “Ficamos preocupados em apenas sentir as emoções agradáveis, mas isso não é equivalente a ter inteligência emocional, por exemplo, que diz mais a respeito de como sabemos identificar emoções e utilizar de estratégias de enfrentamento para lidar com as adversidades e até com os momentos agradáveis”, explica a psicóloga da Vibe Saúde.
Um ponto chave é o reconhecimento de limites e de estímulos que, assim como as emoções, são mensageiros. “Nomear o que é e o porquê dessa sensação ser um estopim é uma tarefa diária, e que nem sempre se faz ser executada com rapidez. É preciso paciência, além de muita honestidade consigo. Lembrar de que fugir da dor está fadada já à frustração, então que possa se abrir à autocompaixão. O espaço da psicoterapia é um local seguro e sem julgamento. Ali, com diálogo, cria-se um vínculo de confiança com um profissional que auxilia na identificação dessas emoções para que aos poucos possam ser trabalhadas e que a pessoa, de acordo com a sua individualidade, aprenda a lidar com a situação de forma mais saudável”, explica.
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