A Covid-19 chegou de repente e alastrou milhares de vidas nos últimos dois anos e mesmo diante da diminuição de casos, o que a doença causou na vida da humanidade ainda reflete nos dias atuais. Segundo uma pesquisa divulgada nesta segunda, 26, pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), há 40.830 crianças e adolescentes órfãos de mãe no Brasil.
Os pesquisadores acreditam que a adoção de medidas necessárias para o controle da doença foi tardia, provocando mortes evitáveis.
As fontes de dados utilizadas foram o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), em 2020 e 2021, e o Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) entre 2003 e 2020.
Coordenador do Observatório de Saúde na Infância, iniciativa da Fiocruz com a Faculdade de Medicina de Petrópolis do Centro Arthur de Sá Earp Neto (Unifase), Cristiano Boccolini, destaca que esses órfãos necessitam, com urgência, da adoção de políticas públicas intersetoriais de proteção.
“Considerando a crise sanitária e econômica instalada no país, com a volta da fome, o aumento da insegurança alimentar, o crescimento do desemprego, a intensificação da precarização do trabalho e a crescente fila para o ingresso nos programas sociais, é crucial a ajuda coletiva para proteção da infância, com atenção prioritária a este grupo de órfãos”, afirma o pesquisador, que é um dos autores da pesquisa.
A morte de um dos pais, com destaque para a mãe, está vinculada a fins adversos ao longo da vida e tem graves consequências para o bem-estar da família, acrescenta a pesquisadora do Laboratório de Informação e Saúde do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), Celia Landmann Szwarcwald.
“As crianças órfãs estão mais propícias a desenvolverem problemas emocionais e comportamentais, o que exige programas de intervenção para atenuar as consequências psicológicas da orfandade.”
Segundo os dados da pesquisa, entre 2020 e 2021, a Covid-19 foi responsável por quase um quinto (19%) de todas as mortes registradas no Brasil. Durante o pico da pandemia, em março de 2021, o país chegou a contabilizar quase 4 mil óbitos pela doença por dia, número que supera a média diária de mortes por todas as causas em 2019, que foi de 3,7 mil.
Desigualdades
O levantamento ainda mostra que o nível de mortes entre analfabetos chegou a ser de 38,8 mortes a cada 10 mil pessoas, enquanto a média da população brasileira foi de 14,8 mortes para cada 10 mil pessoas.
Os resultados mostram que entre adultos analfabetos a mortalidade pela doença foi três vezes maior que entre aqueles que têm graduação.
A pesquisadora da Fiocruz Wanessa da Silva de Almeida afirma a escolaridade e outras características socioeconômicas impactam o prognóstico do coronavírus e de outras doenças. “A desigualdade socioeconômica afeta o acesso aos serviços de saúde e, consequentemente, dificuldades no diagnóstico oportuno e no tratamento dos casos.”
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