Censo Demográfico do IBGE vai, pela primeira vez, às comunidades quilombolas

A equipe de recenseadores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) iniciou as primeiras entrevistas de para o Censo 2022 em localidades antes esquecidas. A visita foi um momento histórico para os moradores da comunidade quilombola da Pedra Bonita, no Rio de Janeiro.

Em meio à visita, muito dos quilombolas se sentiram humanizados com a presença dos recenseadores. “Nos dados e registros oficiais, nós não existíamos em mais de 150 anos. Por isso, é uma data tão importante e histórica. Estamos sendo reconhecidos como cidadãos brasileiros”, disse Eulália, de 61 anos. “Fomos esquecidos por séculos. Não podem nos tornar invisíveis e esconder uma história que é notória e que a gente tem registro em fotos e documentos antigos.”

A Comunidade Quilombola da Pedra Bonita está encravada em um dos quatro setores do Parque Nacional da Tijuca. Próximo dali, fica a rampa de voo livre, de onde turistas e adeptos de esportes radicais saltam de asa delta ou de parapente para apreciar uma visão única da capital fluminense antes de aterrissar na Praia de São Conrado. Embora esteja territorialmente dentro do Rio de Janeiro, a comunidade nunca havia recebido a visita de recenseadores.

O Brasil costuma realizar o Censo Demográfico de dez em dez anos. É a única pesquisa domiciliar que vai a todos os 5.570 municípios do país. O objetivo é oferecer um retrato da população e das condições domiciliares no país. As informações obtidas subsidiam a elaboração de políticas públicas e decisões relacionadas com a alocação de recursos financeiros. O censo, que deveria ter sido realizado em 2020, foi adiado duas vezes: primeiro, causa da pandemia de covid-19 e depois por dificuldades orçamentárias.

A operação censitária começou em junho deste ano. Os trabalhos, inicialmente com previsão de conclusão agora em outubro, estão atrasados: com 49% da população coberta, o IBGE agora estima que o censo se estenda até o início de dezembro.

A previsão é visitar 5.972 localidades quilombolas. É a primeira vez que esta população está sendo consultada. Na edição de 2010, o IBGE incluiu o registro de etnias indígenas.

Em todo o estado do Rio de Janeiro, 60 comunidades quilombolas devem receber os recenseadores. Há uma preparação específica para essa tarefa, diz Isabela Nery Lima, economista e analista censitária do IBGE que está encarregada da coordenação de coleta de informações dos povos tradicionais.

“Precisamos fazer tudo isso da forma menos invasiva possível. E por isso buscamos os líderes. Eles atuam como parceiros que ajudam a abrir as portas e também nos guiam pelo território para podermos entrevistar todos os moradores.” Isabela ressalta que é preciso respeitar a temporalidade dessas comunidades, o que, muitas vezes, exige mais de uma visita. Ela aponta outros empecilhos, como a ausência de moradores na hora da entrevista e a impossibilidade de contatá-los ou a dificuldade para marcar no sistema as moradias situadas em locais onde o sinal de GPS é ruim.

História
A história da comunidade quilombola da Pedra Bonita é um exemplo. Ali começaram a se reunir, a partir da década de 1860, não apenas ex-escravos negros, mas também indígenas e imigrantes portugueses pobres que aderiram à causa abolicionista. Ocupando três sítios, essas pessoas sustentavam-se com produção de hortaliças e frutas e com o cultivo de flores ornamentais. Estima-se que há mais de 2 mil árvores de camélia, flor que foi adotada como símbolo da Confederação Abolicionista, organização política que surgiu no Rio de Janeiro em 1883 e lutou pelo fim da escravidão.

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