Cientistas pedem que o mundo mude radicalmente políticas climáticas

Em uma década, caso não haja forte estratégia climática, os fenômenos meteorológicos extremos de 2023 vão se tornar o novo normal, dizem os principais pesquisadores do clima do mundo em uma publicação do britânico The Guardian, que lhes pediu uma avaliação sobre a crise climática. Segundo eles, efeitos “ainda piores” estão para vir.

Os cientistas destacaram a dificuldade em antecipar esses eventos climáticos extremos que seriam, por definição, raros. Eles argumentam que os modelos meteorológicos estão se alterando muito rapidamente, o que deixa o mundo “a voar parcialmente às cegas” em direção a um futuro cada vez mais imprevisível.

Segundo o professor Piers Forster, da Universidade de Leeds, no Reino Unido Julho foi o mês mais quente da história da humanidade. Para ele as pessoas em todo o mundo estão sofrendo as consequências. “Mas isto é o que esperávamos neste nível de aquecimento. Este será um verão médio para os últimos 10 anos, a menos que o mundo coopere e coloque a ação climática no topo da agenda”.

“Os impactos são assustadoramente mais chocantes do que eu, e muitos cientistas climáticos que conheço, esperavam”, sublinha o professor Krishna AchutaRao, do Instituto Indiano de Tecnologia.

Christophe Cassou, investigador do CNRS na Université Paul Sabatier Toulouse III, em França, acrescenta que “as mudanças nos riscos [climáticos] não foram subestimadas, mas os impactos esses sim foram subestimados porque somos muito mais vulneráveis do que pensávamos – a nossa vulnerabilidade está nos dando um tapa na cara”.

Altas históricas
Em 2023, as temperaturas registaram recordes históricos e os incêndios florestais continuam a devorar milhões de hectares de floresta por todo o mundo, desde a América do Norte à Europa e à Ásia. Por isso “sentimos agora que as alterações climáticas estão acima do clima normal” declara Cassou.

Os cientistas acreditam que o planeta ainda não chegou ao ponto de virada para uma mudança climática descontrolada. Mas Rein Haarsma, do Instituto Meteorológico Real Holandês, alerta para a aproximação desse momento. “Os extremos que vemos acontecer agora podem induzir pontos de inflexão, como o colapso da circulação meridional do Atlântico e o descongelamento das calotas polares da Antártida, que tem impactos devastadores”.

Porém, os cientistas dizem que permanece aberta uma “pequena janela” de oportunidade para evitar o pior cenário da crise climática, e apontam o dedo para responsabilizar o uso de combustíveis fósseis.

“Precisamos parar de queimar combustíveis fósseis”, reitera Friederike Otto, do Imperial College London: “agora! Não é um momento que se permita que as empresas continuem lucrando todo o dinheiro possível”, finaliza.

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