O título da Seleção Argentina na Copa do Mundo do Catar sob a liderança de Messi trouxe de volta o boato de que o jogador teria se submetido a doping com uso de hormônio de crescimento (GH) para se tornar um dos maiores craques do futebol mundial.
Apelidado “La Pulga” tanto por sua habilidade como por sua estatura, Messi realmente fez tratamento com a substância na adolescência. Contudo, o objetivo não teria nenhuma relação com a melhoria de desempenho, mas sim com a necessidade de reverter um atraso de crescimento no atleta, diagnosticado com deficiência de hormônio de crescimento por volta dos 11 anos por estar muito abaixo da estatura média para a idade.
Como o endocrinologista Guilherme Borges explica, o caso do jogador argentino não é tão fora do comum como parece, porém, esbarra na dificuldade de diagnóstico. Embora Messi tenha começado o tratamento já na adolescência – quando iniciava sua carreira no futebol internacional e dando margem para os boatos -, o ideal é que isso aconteça ainda na infância. “Quanto mais precocemente for iniciado o tratamento com hormônio de crescimento melhor, mas normalmente o diagnóstico não acontece tão cedo assim a não ser que a criança realmente seja muito díspar da sociedade”, avalia.
GH, desempenho atlético e riscos
A sigla GH circula o ambiente de academias como um reforço para o rendimento nos treinos e na garantia de resultados mais rápidos. Como explica o endocrinologista, o hormônio tem relação com esses efeitos e, por isso, tem seu uso controlado no meio esportivo. “O GH recombinante está na lista da WADA, que é a Agência Mundial Antidopagem, porque ele pode aumentar um pouco o desempenho atlético, força e massa muscular”, afirma.
Contudo, Guilherme ressalta que o uso sem indicação do hormônio, bem como o de outros que são procurados por frequentadores de academias, pode ter impactos negativos muito piores do que os supostos benefícios. “O GH também aumenta a retenção hídrica, o que pode gerar consequências deletérias do ponto de vista cardiovascular, hipertensão e insuficiência cardíaca, que são motivos de preocupação para o uso indiscriminado”, alerta.
Diante disso, o médico lembra a acromegalia, doença endócrina em que há uma produção excessiva de hormônio de crescimento e que causa propensão maior para enfarto, para doença isquêmica do coração e para diabetes. “O hormônio é contra insulínico, ou seja, ele atrapalha um pouco a ação da insulina e isso pode favorecer o aumento de glicose. Os indivíduos com essa doença também têm maior índice de apneia do sono e mais prejuízos osteoarticulares, então é um quadro bem ruim”, pontua.
Dificuldade de diagnóstico e tratamento adequado
Apesar dos riscos, o endocrinologista Guilherme Borges explica que quando usado no tratamento adequado como no caso de Messi, o GH tem resultados importantes para o desenvolvimento da pessoa com deficiência da substância. Contudo, o diagnóstico precoce depende de vários fatores.
Embora não exista uma idade definitiva, o especialista afirma que a partir de 3 ou 4 anos já é possível avaliar a velocidade de crescimento da criança em relação à curva utilizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) ou mesmo a utilizada no Brasil. “Compararmos essa criança com outras da mesma idade e se ela estiver abaixo do percentil ou do Z Score específicos consideramos esse indivíduo como tendo baixa estatura e vamos investigar se ele tem ou não deficiência de hormônio de crescimento”, esclarece.
No fim, a observação do desenvolvimento da criança é fundamental. Afinal, outra forma de avaliar é a idade óssea. “É feito o raio x das mãos e dos punhos que vão mostrar que essa idade pode estar compatível com a idade cronológica, seja adiantada ou atrasada. Isso nos faz pensar em diagnósticos diferenciais como, por exemplo, alterações das adrenais, que podem às vezes acelerar a idade óssea ou mesmo na própria deficiência de hormônio de crescimento, na qual às vezes os indivíduos têm uma idade óssea mais atrasada”, completa.
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