Obesidade: perder de 3% a 10% do peso já causa impactos positivos na saúde

A obesidade tem seguido uma curva ascendente no Brasil. De acordo com dados da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), nos últimos 13 anos o número de pessoas acima do peso no País aumentou 72%. Durante o auge da pandemia, entre 2019 e 2021, o índice entre a população saltou de 20,27% para 22,35%.

De acordo com a nutricionista clínica e esportiva Carla Cabral, isso reforça o impacto da transformação acelerada na rotina das pessoas. “É uma combinação de fatores que já vinha sendo observada, mas que a pandemia potencializou. O ritmo de trabalho, hábitos alimentares ruins, sedentarismo, estresse, ansiedade, frustração e falta de regulação do sono, resultando no ganho excessivo de peso”, pontua.

“Uma pessoa que reduz 3% de seu peso diminui o risco de complicações por doenças infecciosas (entre elas a Covid-19); acima de 5% já tem impacto em fatores metabólicos como colesterol e triglicérides, além de reduzir dores nas articulações. Quem consegue diminuir 7% do peso corre menos risco de desenvolver diabetes tipo 2 e acima de 10%, a perda de peso impacta diretamente na redução do risco de ter gordura no fígado (esteatose hepática)”, completa.

Causas e efeitos da obesidade
A discussão em torno da obesidade não é simples. A obesidade é uma doença crônica definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) que favorece o acúmulo excessivo de gordura. Por um lado, é preciso lidar com o preconceito que atinge a pessoa obesa. Por outro, a nutricionista explica que a conscientização é fundamental e que a persistência do problema pode trazer prejuízos à saúde do paciente.

“A presença dessa gordura em excesso no organismo pode desencadear problemas graves. Ela está associada ao risco de pelo menos 229 doenças. Dentre elas, a hipertensão arterial, o aumento do colesterol e triglicérides, diabetes, apneia do sono, acúmulo de gordura no fígado, infarto, acidente vascular cerebral (AVC) e 13 tipos de câncer como o de mama, tireoide, ovário e a leucemia”, alerta Carla.

A boa notícia é que tudo isso pode ser evitado a começar pela adoção de uma rotina saudável. Como a nutricionista afirma, é possível relacionar esse aumento constante no número de pessoas obesas à predominância de hábitos ruins no cotidiano. O que se viu na última década foi a aceleração do ritmo de trabalho aliada a uma presença maior de alimentos ultraprocessados e delivery de fast food em substituição do tradicional arroz com feijão e salada.

Além disso, essa rotina mais “corrida” deixou as pessoas sem tempo e sem disposição para a prática de exercícios físicos regulares. Para completar o ciclo, o estresse, a ansiedade e a frustração diante de problemas diários desencadeiam crises de compulsão alimentar que afetam o apetite e prejudicam a regulação do sono.

A importância da mudança
De acordo com a nutricionista, a obesidade também sofre influência de fatores genéticos, mas eles também podem ser modificados. “Existe sim uma base genética que predispõe para a obesidade, mas é um grande desafio definir o que está exclusivamente ligado a isso. Sabe-se, por exemplo, que algumas variantes do chamado ‘gene da obesidade’, identificado pela sigla inglesa FTO, só se manifestam em determinadas condições ambientais”, pontua.

Embora essas mudanças não sejam uma tarefa simples, elas reforçam a importância da adoção de hábitos saudáveis. Para a nutricionista, esse processo é gradual e o primeiro passo é buscar ajuda de médicos, nutricionistas, psicólogo, psiquiatras e educadores físicos. A prevenção e o tratamento inicial são similares, servindo tanto para evitar o agravamento do quadro como para devolver a qualidade de vida à pessoa.

“Além dos problemas físicos, podem existir conflitos emocionais, discriminação, bullying, exclusão e preconceito em geral. É duro padecer de uma doença e ainda ter que conviver com isso. O senso comum trata o obeso como preguiçoso, acomodado e culpado pela própria situação, mas isso não é verdade. Ninguém planeja a obesidade. Por isso a conscientização e acolhimento são tão importantes”, conclui.

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