Segundo a organização não governamental (ONG) ambientalista WWF, a Europa compra dois terços da quantidade de comida que exporta, consome mais que o necessário e ainda descarta fora parte dos alimentos de que oferece.
“A Europa come o Mundo” é o título do trabalho da WWF, que concluiu que o mundo “já produz alimentos bastante para todo o mundo”, porém é necessário que haja transformações no sistema comercial e de produção para que cheguem a todos.
Em números de 2020, a União Europeia comprou 122 bilhões de euros em insumos agroalimentares e exportou 184 bilhões. A Europa se sobressai já que vende produtos caros e compra produtos de baixo valor, mas isso impacta a distribuição alimentar mundial, de acordo com a WWF.
A WWF indica o reflexo no mundo que os padrões de consumo europeus geram ressaltando que “as recentes taxas elevadas de produção alimentar só acontecem graças à importação maciça de recursos”.
Os produtos agrícolas importados para a Europa, sobretudo a soja, são cultivados à custa de florestas destruídas nos trópicos: “entre 2005 e 2017, aproximadamente 3,5 milhões de hectares de floresta foram destruídos para produzir produtos agrícolas” para o mercado europeu, gerando gases de efeito estufa referentes a 40% das emissões anuais europeias.
Nas fronteiras europeias, há a agricultura industrial assentada “num modelo extrativo que desgasta a base de recursos naturais de que depende”, causando a perda de biodiversidade, a solos menos saudáveis e poluição provocada pelo uso de fertilizantes, que chegam também aos ecossistemas aquáticos.
No pescado, o continente europeu compra quase o dobro do que produz, com 5,1 milhões de toneladas e 9,5 milhões de toneladas importadas em números de 2019, equivalentes ao consumo de mais de 12% do total global. Só em marisco, cada europeu consome todos os anos em média 24 quilos, porém apenas 40% é produção europeia.
Segundo a WWF, influencia nos ecossistemas e nas fontes pesqueiras do mundo, mais de um terço dos quais são “explorados mais que o necessário”.
É indicado que cada europeu jogue fora 173 quilos de alimentos anualmente, destacando ainda que “15% da produção alimentar total se perca durante ou pouco depois da colheita de cada ano”.
Ângela Morgado, a diretora da WWF Portugal, ressaltou que a guerra na Ucrânia impactou a produção de cereais e pode ser “instrumentalizado” para se reduzirem os compromissos ambientais europeus em favor de aumentos de produção.
“Somente um sistema alimentar mais sustentável poderá garantir segurança alimentar. A UE deve planejar uma forma de produzir e consumir melhor, de forma diferente”, defendeu.
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